No dia 18 de outubro de 2010, faleceu o senhor Leontino Nunes de Barros, aos 85 anos. Mais conhecido como “seu Maneco”, era um dos moradores mais antigos da Ilha dos Pescadores, no centro da cidade. Patriarca de uma família caiçara, adorava contar seus “causos” aos filhos e netos. Como um clássico caiçara, trabalhou com agricultura de subsistência no bairro Ubatumirim, até se mudar com a família para o centro da cidade na década de 1960. Gabava-se de sua bravura, desafiando possíveis inimigos, assim ditos aqueles a quem ele julgava devedores e desrespeitosos. Na verdade, a bravura estava no inconformismo com injustiças, e na sede por trabalho, trabalho pelo qual ele mesmo justificava sua própria existência. “A gente nasce pra trabalhar”, ele dizia... E com todo o orgulho afirmava que já tinha criado os filhos, já tinha trabalhado muito, e não devia nada pra ninguém. Para aqueles que ainda defendem a errônea idéia de que os caiçaras têm como característica principal a preguiça e a vulnerabilidade ao alcoolismo e à exploração de turistas e especuladores imobiliários, este homem foi a prova viva de que está na hora de reescrever nossa história. Enquanto neta, tenho orgulho de ter convivido com este querido avô; enquanto caiçara, tenho orgulho de ter herdado suas expressivas características; enquanto historiadora, tenho orgulho de ter podido entrevistar este patrimônio e compor meus trabalhos com suas belas palavras. Obrigada, vô... por ter existido como pai, avô, homem, caiçara, guerreiro, e o meu maior orgulho: um excelente contador de histórias! Em nossa memória para sempre...
Por: Joice Fernandes
Um espaço para compartilharmos nossas experiências, sentimentos, conhecimentos e motivações em relação a nós mesmos: CAIÇARAS!
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Eu cai e "sarei" também, rsrs
ResponderExcluirConheci seu "seu Maneco", mas não imaginava que era o seu querido vovô. Vianjando na sua escrita, lembrei até dos bolinhos de fubá que eu "roubava" do meu vo que também era um caiçara guerreiro. Abs
Pois é Joice, bonita essa "atualização" através das gerações: seu avô, contador de histórias; você, também, só que à sua maneira (acadêmica, científica). Isso também aconteceu com a minha família. Minha tataravó (caiçara de Ubatuba, como você), era parteira (Sinhá Mariquinha)...e uma neta dela, minha tia-avó (Lucy) é hoje médica obstetra. Emocionante esses re-encontros que a vida e a História fazem, não?
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